quarta-feira, 30 de maio de 2012

Exposição Diálogos

A Casa de Cultura convida para a abertura da Exposição Diálogos de Annie Luporini e Tiza Vidal, na próxima sexta dia 1 de Junho às 19h. A mostra que reúne colagens e cerâmica ficará na Casa de Cultura até o dia 13 de Junho.



"Em 1978 começamos, João Grijó, artista plástico português já falecido, e  eu, uma pesquisa dos elementos que já tendo cumprido seu ciclo de utilidade, estavam sendo re-aproveitados em um novo ciclo, diverso daquele para o qual tinham sido pensados. Sendo o Brasil (1978), um país de recente e rápido desenvolvimento industrial as implicações em termos econômicos, sociológicos, antropológicos e ecológicos ainda estavam muito presente.
Focamos nossa pesquisa no artesanato popular onde técnicas artesanais de reciclagem se desenvolveram de uma forma natural ou quase. A estética do reaproveitamento de restos industriais e a inteligência do fazer de nosso povo, sem qualquer compromisso com o dito “bom gosto”, sempre me fascinaram. Através de sua potencialidade criadora, sua sabedoria intuitiva e seu espírito de sobrevivência o artesão nos transmite de forma, talvez ingênua, o saber conviver e investigar a realidade plástica e simbólica que nos cerca.
Como artistas nosso interesse com esse trabalho, apresentado e aceito pela UNESCO em 1982 era de, além da abordagem acima citada visando levantar questões e de apresentar e agrupar trabalhos já desenvolvidos, provocar novos através de uma abordagem semiológica, na tentativa de uma análise do objeto enquanto símbolo e das transformações a que é submetido em sua trajetória.
Em meu trabalho é essa realidade plástica, registro de sua trajetória temporal/espacial, que me interessa. Exploro ao máximo os sulcos e as manchas, memória gravada de seu uso, criando com eles meu desenho. Com grafite vou evidenciando essas cicatrizes, delineando as marcas do tempo, provocando novas, lavando ou apagando as muito evidentes, evocando a sensação de uma lembrança, um devaneio poético. Trabalho, também, formas que são como que sombras projetadas, memórias presentes. Nas colagens re-aproveito partes de desenhos que eliminei por alguma razão e desenhos mal resolvidos compondo, com esses “restos”, um novo desenho. Gosto do desafio que essas colagens me impõem e do resultado que sempre me surpreendem. Durante minhas viagens pelo interior do Brasil para um pré-levantamento do re-aproveitamento no fazer popular encontrei um artesão que, apesar de mestre em cestaria, estava trabalhando com pneus usados. Como forma de provocação, perguntei: “porque você trocou o cipó tão bonito por estes pneus usados?” E ele, em sua sabedoria, me respondeu: “Dona, onde o cipó rareia e o pneu abunda, quem sabe faz”. Esse “saber” não é o saber arrogante daquele que se sente superior, mas o saber do homem orgulhoso, consciente de que, para sobreviver, saberá se reinventar quantas vezes for preciso. E foi essa a grande lição que aprendi em minhas viagens por esses “Brasis”, a de não se deixar cristalizar, estar sempre pronto a se reinventar."                                                            Annie Luporini

Nenhum comentário:

Postar um comentário